comunicação

Ele estava, como sempre, do seu lado. Mexia no seu cabelo como fizera desde o primeiro dia em que se conheceram. Desta vez chorava um choro manso de lágrimas silenciosas. Em volta um burburinho de pessoas curiosas, alguém que espirra sangue na calçada costuma mesmo ser motivo de interesse. E os abutres em volta, sedentos pelos acontecidos da vida alheia para alimentar a sua própria insignificância. Mas para ela, ora inerte, só ele. Porque ele chorava tanto se não queria mais saber dela?
Sempre tinha se sentido imbecil. Até conhecer Rafael. Por isso o amava. Porque não precisava fingir conversas inteligentes onde ninguém tem certeza de entender tudo o que diz. Com ele as palavras eram desnecessárias, só o olhar bastava. E fora aquele mesmo olhar que lhe anunciou o fim. Saiu desesperada atropelando um carro que vinha em alta velocidade e terminou na contramão atrapalhando o tráfego, igualzinho a música do seu poeta favorito.
Ela estava morta e ele não tinha entendido. Chegara mais feliz do que nunca, tateando um anel no bolso. Tinha chegado a hora. Mas como? A angústia foi se apossando dele lentamente e quando chegou até ela explodia já no seu rosto. Como de costume ela não falou. Olhou-o e saiu em disparada rumo à via pública. Tentou um grito. Mudo que sempre fora, não conseguiu.