23 maio 2009

ela

E foi assim mesmo, sorrindo esses olhos que iluminam meus dias vazios e iguais, que me deixou numa tarde em que eu tinha comprado de surpresa ingressos pro teatro. Não era eu, era você. O velho motivo que nada explica mas que foi tudo que eu consegui arrancar. Assisti a peça sozinho, cadeira do lado vazia martelando sua ausência, e não houve atuação premiada que me desconcentrasse da imagem do seu rosto naquele dia em que choveu toda a agua do mundo sobre nossas cabeças. Dvd e cobertores, amor... Lembra?!
Homem não chora, mas que homem sou eu sem você por perto? As lágrimas rolaram soltas, um sax qualquer rolando no rádio do carro, céu ranzinza, lua amuada, nuvens carentes procurando o aconchego umas das outras. E eu a caminho de casa . Mas não existe mais casa sem voce pra deixar a toalha molhada em cima da cama. Larguei a minha do mesmo jeito que voce fazia tentando recuperar entre aquelas quatro paredes um pouco do sentimento de lar mas não funcionou. Não resisti e larguei seus chinelos na entrada do jeito de sempre, te esperando para sempre... Sabe pequena, não notei a sua chegada, um dia voce de repente estava ali e eu percebi as palavras que costumeiramente me escorregavam pelas cordas vocais se atropelando desconexas. Farta da profusão de palavras inúteis que contínuamente brotavam de mim voce resolveu colocar um fim naquilo tudo e eu sou eternamente grato por isso até hoje. Ah... alguém que me entenda sem que eu precise expressar o que não saberia dizer! Os deuses foram generosos comigo naquele Natal.

Acordei no dia seguinte não tendo motivos para acordar. Olhei o espelho na hora do banho encarando meu futuro ora obsoleto. Alcancei a tomada com o cotovelo esquerdo mas a luz do banheiro não me trouxe o esperado conforto. Apenas deixou mais crua e flácida a verdade nua. Vesti uma roupa qualquer e, arremendando o que sobrou de mim do jeito que deu, ténue esboço do que sou ao seu lado, saí à rua, determinado a seguir em frente. Eis a curva da estrada.

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