03 julho 2010

opus divinum

Tiro-a para dançar. Em volta, a plateia não entende. Vislumbro porém alguns olhares invejosos em minha direção. É uma parceira difícil. Não que seja desajeitada. Mas é difícil pensar apenas em dançar quando a tenho tão perto, me clamando. Promete sossego. paz, enfim. Quer me guiar e eu sei que o faria sem tropeços. Mas nesta dança o mestre sou eu. Por enquanto, ao menos. É difícil pensar enquanto ela se move assim. A música já mudou algumas vezes e a plateia perdeu o interesse em nós. Um ou outro olhar furtivo ainda nos segue. Me segue. como que se perguntando porquê eu resisto. outros olhos tristes me acompanham desde o começo. esses eu tento com toda a força ignorar e cada vez se torna mais simples. Sei o que dizem. Que estou endoidecido e não deveria estar ali. Que é perigoso demais e eu devia tomar juízo. Mas sabe, mesmo que a siga. A vida é um lugar solitário, acredite em mim quando digo que sei. Mas lembre que a escuridão nos une. Não fossemos todos sacos de átomos eternamente cruzando no caminho uns dos outros. Nem que apenas na esfera molecular. Mas preciso ir agora. Eu tenho-a visto em sonhos e sei. Mesmo que não me responda as dúvidas, saberá calar as perguntas.

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