26 janeiro 2008

sono REM

Olhou reto em direção às minhas retinas e parecia prestes a disparar algo definitivo. Respirei fundo esperando o golpe. Esse era o jeito certo. Qualquer outra coisa que eu tentasse fazer ou dizer só pioraria a situação pro meu lado.Tem sido assim desde aquela madrugada de chuva bissexta. Tem conversas e coisas que só acontecem naquela hora em que a noite já passou e o dia ainda vai levar um tempinho para clarear. Respirei de novo. Pelos vistos, do jeito que ele me encarava, eu ia precisar de muito oxigenio para sobreviver àquela conversa. Desviei meus olhos para a janela e passei a encarar os prédios gordos que impedem a vista para o parque com os musculos tesos aguardando a pancada.
Não achasse ele que me pegava desprevenida. Estava tudo há muito planejado. Sabia que cedo ou tarde a hora chegaria. Tinha até minha cara para a ocasião ensaiada na metade que sobrou do espelho do banheiro. Receberia aquela direita cruzada com a mesma naturalidade com que dava bom dia para Celestino todas as manhãs antes de pegar o carro. A resposta já coçava na língua pronta para explodir na cara. Planejada nos mínimos detalhes para fazer estrago. Tinha considerado todas as variantes. Só para o beijo que me prendeu a língua e sugou o folego que não.

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