22 fevereiro 2013

nós

'amor fati' - ama o teu destino.


Congelei o tempo e você nem notou. Esse instante depois de tudo. Meio enroscados que estávamos na minha cama, ainda com algum alcool sendo destilado no nosso suor àquela hora da manhã. Passado o calor, as línguas, o sexo. Depois da saliva, das mãos famintas e de todas as palavras sacanas, certeiras no seu alvo. Você mancando seu joelho fodido no jogo de futebol para saciar a sede que o saciar da nossa sede deixou. Me deixando pra trás, em protesto silencioso, ansiando que voltes para a cama para me aquietar nos braços. Esse tempo de nós dois deitados, seu beijo começando pela minha bochecha, sua mão (sempre) procurando a minha bunda. Parei o mundo um pouquinho, para nos olhar de fora. Entretido que estás em desafiar a força tênsil dos meus cachos, dizendo um disparate qualquer que me faz gargalhar, absurdamente feliz. 
Já pouco me lembro daqueles primeiros dias, mas parece-me que a quentura dessas mãos, entrelaçando seus dedos nos meus, terá sido o primeiro contato entre nossas peles, um pouco além do roçar burocrático das bochechas nos eventos sociais. Nem sei bem quem começou o quê. A parte que recordo mesmo começa precisamente com nossas mãos se tateando. Foi ontem, babe. Aquele desvio sorrateiro para o banheiro do cinema. O melhor filme ruim de sempre. E me custa um pouco que este ano passe e a história de nós dois deixe de ter acontecido mesmo agora para ser 'o ano passado'. 
Então parei tudo num suspiro. Antes do resto. Da sua vida com ela. A que fica bem na foto de casal. Com efeitos e luzes que a vida tantas vezes se esquece de ter. Suspendi o tempo porque sei que vais levantar dessa cama para os braços dela. Onde a tua vida será a que sempre foi, e isto agora, estes dedos que desfiam meus cachos, terão sido apenas uma alucinação pouco coerente. E eu restarei só um nome que às vezes suspiras entre sonhos.
Mas por ora o tempo e o depois não nos afetam, ainda estás aqui e me tens segura neste nosso abraço, e estamos em casa.

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