Há 15 anos atrás começava a guerra
que mudou a história de várias gerações de guineenses. Interesses que
não eram os da maioria condicionaram nosso destino para sempre. Para
melhor? Provavelmente não. Amigos emboscados por bombas que levaram
vidas e membros. Outros tantos que os nossos caminhos não mais cruzaram. O dia-a-dia pacato. Banho de chuva com os amigos do prédio, banho de tanque com as primas no quintal da avó. Convencer o primo a subir a mangueira, roubar goiaba da nha Helena, ou só mesmo sentar no muro e ler as histórias em quadrinhos trazidas pelo pai na última viagem. Jogos de polícia e ladrão, trinta e cinco, berlindes, malha, pimponeta. E outros que a memória já só
recorda quando passo em alguma esquina de Bissau e vejo replicado em
outras crianças, que mal sonham o que era naqueles tempos, a Bissau da Praça de Império. Dos Carnavais do Ntrudo. Kau peganha rabada. Badjuda n'mistiu. Sin findiu kadera, ba misti bu dona, atrivido.
Podes
levar o que couber numa mochila, minha mãe me disse. Vinte minutos para
juntar tudo o que interessa. Documentos, uma muda de roupa e memória
congelada em meia dúzia de fotos. Nestes momentos percebemos bem como é
supérfluo quase tudo que nos rodeia. E até hoje, volvidos 15 anos, nada
de material que deixei pra trás me fez falta.
Mas a guerra me roubou meu
país e o resto da infância.
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