06 setembro 2005

macho latino

Era o amante das meninas todas. Cigarros e frases de efeito tiradas do jornal da barbearia. Latino macho?Concerteza. Daqueles de fazer marquinha na cabeceira da cama e colecionar calcinha de renda. O processo, meticulosamente elaborado, começava geralmente com uma cantada desafinada mas incrivelmente eficaz, passava rodopiante pela Estudantina e culminava com uma nova marca discretamente esculpida no intervalo higiênico do prazer. Havia ainda mais uma coisa... um ritual que nenhuma delas compreendia mas que provocava fascinação imediata. Um grito seguido de um suspiro, o sangue afagava a sua pele enrubescida e o chicote era guardado. À porta, aberta, acompanhava a constatação trivial mas sempre dolorosa: "Não era você."
Era assim desde menino. A puta que o parira, cedo se foi. Parece que se ganha mais dinheiro no Sul. As que, como ele, ficaram na pensão, o iniciariam nas lides femininas. Sempre fora ótimo aluno e o vizinhança inteira sabia disso. Por isso, as moças o tiravam no palitinho na saída da missa de Domingo.
Era assim desde menino. A vida inteira em compasso de espera. "Mas do quê, meu deus, do quê", se perguntava acariciando o canivete. Uma angústia de origem desconhecida que tentava afogar nos peitos da próxima, no sexo da que virá depois... quem sabe os lábios da outra a suguem de vez?
Certo dia uma revelação! Acorda cedo, aposenta o chicote, vende a cama e leiloa as calçinhas. Mochila arrumada. Campainha que toca, porta que se abre afoita. Um suspiro seguido de um grito: "Você!!! sabia que viria hoje!" ... as testosteronas se somam e a ânsia da descoberta se transforma em um beijo delicado. Saem abraçados. São Francisco costuma estar linda nesta época do ano...

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