beatriz

Acordou cedo e assim mesmo, de calcinha e camiseta velha da eleição passada, se encaminhou molemente para a cozinha ajeitando inutilmente o cabelo desgrenhado. Abriu a geladeira para pensar enquanto pensava que alguém devia fazer um estudo sobre isso. Fechou de volta resistindo à tentação da pizza fria. Banho. Decisão tomada, sorriu um sorriso frouxo, de quem tem chorado muito.

Com a porta do banheiro entreaberta escutou Chico perguntando se seria moça ou triste. E a melodia foi tomando conta dela enquanto largava seu escasso vestuário no chão do banheiro se preparando para enfrentar a resistencia quebrada. A lembrança dele se fixou mais forte e fez com que respirasse fundo, tentando sorver esse odor inconfundível que parecia de repente pairar no ar. Suas mãos têm o exato encaixe da sua nuca. Adora se apoiar no seu trapézio para se içar, graciosa bailarina, em direção ao sétimo céu. O amor é brega constatou sorridente enquanto o chuveiro diluia a inundação de lágrimas que quase a deixou desidratada. Enquanto ele ia sussurando obscenidades deliciosas no seu ouvido ela pensava em como contar, se valia a pena correr o risco.

Será que é loucura? Chico queria saber... Ela também. Deixava escorrer a água gelada sobre o corpo entorpecido, nem éter nem louça, ensaboando cuidadosamente cada pedaço de carne que pôde alcançar. Com ele tinha aprendido a não viver com os pés no chão mas alguma coisa ainda lhe dizia que essa felicidade toda podia ser perigosa. Inevitávelmente chegaria o momento de contar pensou enquanto ensaboava a parte da sua anatomia que só se revela nessas horas.