papai noel não existe

A solidão vem de mim e, de dentro pra fora, me impregna e explode. Mas ninguém vê. De verdade, ninguém nem olha. Mais do que pele íntegra te separa dos outros. Essas grades, essas algemas invisíveis que me prendem em mim, cerceiam minha existencia dentro dos limites da minha massa física. A única coisa que a gente não se livra é de nós mesmos. Livros, cinema, conversas... alcool? sexo? Fugas temporárias. No final da noite, quando a cabeça pesar sobre o travesseiro serão voce e voce. Sós. Só.

Como faz falta, vez ou outra se despir de nós, nossas vidas, nossas rotinas e experimentar outras... Algumas pessoas teriam fila grande, muitos miseráveis provavelmente não encontrem candidatos dispostos a experimentar seu modo de vida...
Te enganam na infância (protegem?), arrumam amiguinhos de pano ou imaginários. Te impingem o príncipe encantado mas ninguém avisa que ele também dá uns pegas na fada madrinha e na bruxa malvada. Aposto que seus pais não te deixavam ir na esquina sozinho! Aí voce vai crescendo e descobre a pólvora. Se tornar adulto é isso. A gente existe e ninguém mais tem nada a ver com isso. Sabe o papai noel? Mentira do título, existe sim! É um velhinho safado que comia criancinhas no polo norte. Seus pais, seus amigos, seu cachorro, o peixinho do aquário? Eventualmente te emprestarão ombros e ouvidos, quiçá latidos solidários e até alguma grana nas épocas de aperto. As formas de expansão do pacote básico são conhecidas: escreva, plante, procrie. E mesmo assim, nossas solidões se encontram por aí e raramente se somam. A piada do "hey, vc está só, eu estou só, vamos ficar a sós!" é apenas uma cantada espirituosa.