27 fevereiro 2010

cirurgia

Quando se olha para dentro de uma pessoa não há alma, não há coração, apenas músculo para onde o sangue escorre e é expulso e para onde teima em voltar. Há gordura, fáscias, peritonio, estômago com tumores ou úlceras malignas. Há fios que outro cirurgião deixou para corrigir aquela ardência chata. Bridas a obstruir o antigo caminho. Desejos, projectos, minha eterna obsessão. Nada disso se vê quando se olha para dentro da gente. Apenas vasos que sangram e orgãos imperfeitos. Se se demora muito o corpo reclama, os monitores apitam e é preciso parar, voltar outro dia. Talvez as drogas adormeçam a alma e os sonhos.
Talvez o corpo faça apitar as máquinas quando ficamos perto demais de descobrir-lhe os últimos segredos.

2 comentários:

Paula disse...

sabe que eu ando fazendo isso ultimamente.. rs inclusive no souza aguiar rsrsrs
realmente o inventario da cavidade nao encontra nenhum sentimento. nem pocura , na verdade.
oque vc anda fazendo?
beijos

Garagos disse...

acho q tem algo de estranho em achar bonito o interior, literalmente, das pessoas, todo médico eh meio perturbado...