25 julho 2011

O banheiro tem aquela luz de cabine de provas que te deixa pálida. Pelo menos não tem a mesma imensidão de espelhos me censurando por todos os ângulos. Mas não é hora para essas inseguranças femininas bobas. Você está do outro lado da porta e eu ainda estou pouco à vontade, mas é uma questão de tempo. Agora mesmo, eu não consiga parar de pensar se endoideci de vez. De ajeitar o cabelo atrás da orelha. Acho que deve estar meio impaciente porque a porta se abre e estás atrás de mim, dizendo uma bobagem qualquer no meu ouvido, que eu não preciso ouvir para entender. Continue se encostando assim que tudo vai ficar bem. Não sei quanto a você mas a mim o tesão me pega pela respiração. Fica difícil, o ar faz fita e não entra e minhas células se atordoam, os joelhos amolecem e viro só pele eriçada e vontades. Mas é preciso ser preciso. Começar devagar, titular doses. O gesto certo ao sabor da canção, deixar que vento e chuva cumpram seus papéis do outro lado da janela. Mesmo neste pardieiro que você me trouxe, de certas coisas não dá para abrir mão. Então faço que não estou nem aí e me afasto um pouco para que me olhe inteira enquanto vou para o quarto. Todos os dias da minha adolescência gastos a aprender o equilíbrio instável sobre estes saltos estão valendo a pena agora que te sinto cada vez mais tenso enquanto olha para a minha bunda se passeando pelo quarto, indecisa se me dirijo à cama ou à janela. Ainda não trocamos nenhuma palavra desde que chegamos e estou achando bom assim. 

Um comentário:

Defunto Autor disse...

Uou. Que ótimo.