11 dezembro 2011

contra o tempo

O tempo em que ele não esteve perto pareceu um parêntese, e daqueles parênteses longos que atrapalham a leitura, a linearidade do raciocínio. De certa maneira, era como se o próprio tempo roubasse de minhas mãos o tempo que me pertencia ao lado dele. Todos os dias contados em tempo negativo. Os dias que não passamos juntos. (E a eles se some esse ardor, estas mãos que me percorrem insatisfeitas.)
O tempo em que ele não esteve perto foi tempo demais, tempo a mais. 
Desesperado em cada milissegundo eterno. Malgasto em tentativas vãs. Mais carimbos no passaporte, um pouco mais de álcool no meu copo. Mais do amor malfeito, destes que desfilam pela minha cama e que amo sem amar.
Nem cartas, poemas, nem todas as conversas em todas as madrugadas, tentando adivinhar expressões que se escondem atrás do telefone. (Palavras para dizer bem menos do que meu corpo seria capaz.) Não é uma batalha que possa ser ganha.
Que sentido para estas flores? Para este sol bonito se preparando para dormir? O ruído do mundo que passa é uma televisão fora da sintonia e eu sou só mais um, cruzando a esquina. A vida corre e eu pareço ficar. Padeço. Presa nesta promessa que tarda em se cumprir. Prestes a me afogar em lençóis suados nestas madrugadas silentes que nunca chegam a amanhecer. Em todas as verdades que aprendemos a mentir.
E é preciso apenas um novo instante. Um novo toque (uma nova carícia no vão dos seios) deste homem que se transforma e se faz imenso, meu íncubo particular. E assim o tempo inteiro se condense de tal maneira que não haja nada entre aquele último momento e o aqui e esta blusa que já não me veste. Para que a vida me arrebate de novo, e me encontre assim, de espinha arqueada, clamando aos céus que o tempo não passe nunca.

Um comentário:

Garagos disse...

suspiro