regras do jogo

Tinha sido a mesma noite de todas as sextas-feiras do último ano. Como sempre, o samba suingado, os arcos, as 'meninas', a mesa na calçada, a mesa de sinuca, a cerveja e os rostos de todas as outras sextas. Quase a mesma noite de sempre. Do outro lado do microfone estava alguém que cantava olhando direto para os seus olhos. E a música dequele olhar a aquecia de modos insuspeitos. Olhou de volta (lição numero um, sempre olhar de volta. E sorrir.) Sorriu. O horário dele terminou. Veio para a mesa. Aceitou os elogios da galera. Tinha ficado nervoso. Era a primeira vez dele ali. Não, ninguém tinha percebido o seu nervosismo. Claro que sim, na próxima sexta-feira estariam de volta.
Era tarde, a lua já quase sol, deixaram os amigos tomando um último oceano de cerveja e perturbando o baiano que tocava sax. Dançar? Não sabia dançar direito (regra numero dois: a relutância), mas se ele insiste... Ele insistia. Ganhou a dança com melodia profissionalmente sussurada ao pé do ouvido. Esqueceu todas as regras e ganhou beijo no pescoço. Mão esquerda bagunçando o seu cabelo e mão direita conhecendo a sua cintura. Beijo no canto da boca. Não, ela não podia ir embora. Era cedo. Tanto tempo frequentando a Lapa e ainda não conhecia as regras! Ninguém saia dali sem uma partida de sinuca, fazia parte das normas da casa.
Ganhou dele repetidas vezes. Da primeira vez ele sorriu, fez graça. Da segunda tomou um gole extra de cerveja e ajeitou as bolas para a revanche. Ganhou a conta paga e um adeus com beijo na bochecha. Não se ganham cinco partidas seguidas de um homem impunemente. Vinte e cinco anos e ainda não conhecia as regras do jogo.