14 dezembro 2005

diagnóstico

Caiu sobre os seus ombros fazendo mais pesado o recém-amado em seu colo. De súbito se fez crepúsculo e o consultório, minúsculo, se fechou sobre ela espremendo lágrimas sufocadas nas últimas semanas e o bolo que cada vez mais comprimia a traquéia. Acariciou as bochechas do bebé inocente, mãe-centopéia, sem pés, sem chão. Uma careta insolente e uma ameaça de choro-revolução comprovavam a irreversibilidade daquele ser humano ínfimo que, abrigado nos seus braços, abocanhava já sôfrego o peito inchado. E lhe deu novo ânimo aquela criança afoita, sugando todas as gotas de vida, devolvendo ao mundo o ar supérfluo em manifestação sonora.
O diagnóstico não tinha brechas, o cromossomo estava ali mas não faria diferença, pensou apreciando o sol que, teimoso, se divertia derretendo as nuvens cinzentas horizonte afora.

13 comentários:

Anônimo disse...

Belo conto.O seu blog é tudo de bom.

Anônimo disse...

A descrição metaforizada ficou fantástica. Gostei mesmo! Vou comecar a frequentar por aqui...

Claudio Eugenio Luz disse...

Diagnostico profundo e, porque não, melancolico sobre uma realidade cada vez mais proxima.
.
hábraços,claudio

Anônimo disse...

choro-revolução foi ótimo. bom texto.

moca
www.tequilasun.blogger.com.br

Cláudio B. Carlos disse...

Muito bom!

Anônimo disse...

dia agnóstico.

Anônimo disse...

aquela assim:

tu ti tundum, ti dum
tudumdumdum

;)

Anônimo disse...

Sabe como é né, fim de namoro, adolescente frustrado.. pensamentos a mil! UEhauehaU tenho que tomar nota!

Joana Careca disse...

Gostei do seu blog! Adoro textos curtos. Voce também escreve muito bem!
Um beijo
Joana

Anônimo disse...

Creio que já esteja longe o suficiente... Moro em João Pessoa! UEauehaU :P

Andy disse...

Posso apenas desejar um feliz natal?

nandi disse...

para todos nós!! feliz natal e aquele voto mais do que batido mas sempre oportuno:
CARPE DIEM!

Warum Nicht? disse...

guria!
como tu consegue cristalizar assim um momento?
sou teu fã, já...